sexta-feira, 10 de junho de 2011

(Auto)piedade

Era inútil, sabia disto, mas mesmo assim chorei durante horas e dormi durante dias. Não consigo entender como tudo em minha vida se tornara tão mórbido. Comer não me parecia necessário, tão pouco encarar a realidade que me batia na cara.  Caminhava lentamente pela casa ás poucas vezes que saia do quarto... Desejava dormir, apenas isto, o silêncio e o escuro faziam-me sentir melhor... O dia e a luz lembravam-me da realidade e viver parecia assustador. Não tinha me dado conta da quantidade absurda de pijamas que tinha, até eles se tornaram meu uniforme oficial. Ainda assim, por vezes esgotavam-se me obrigando a colocar outra roupa qualquer. Motivo suficiente para surgir especulações do tipo: Você vai sair? Esta se sentindo melhor? Eu posso ir com você se quiser... Os dias se passaram e momentos como estes me fizeram ver o quanto o meu bem estar estava atingindo as pessoas a minha volta. Passei a analisar mesmo que inconscientemente minhas atitudes e as consequências de cada uma delas. Nada é tão ruim como parece, eu sei, e sabia disto, mas o processo de aceitação sempre é mais lento do que queríamos. A face das pessoas que me amam me cortava por dentro, a cada olhar de piedade lançado. Sentia-me uma coitada... em luto... Quando deveria sentir o inverso. Talvez fosse isso que despertava o sentimento de pena nas pessoas... A minha incapacidade de enxergar o bem que a vida estava me dando de presente. Aos poucos fui saindo do meu quarto, trocando palavras, respirando com mais facilidade... Meu corpo foi parando de doer, e meu peito, e minha alma.


Camila C. Schossler

Nenhum comentário:

Postar um comentário